sábado, 28 de novembro de 2009

POLÍTICA, IDEOLOGIA E RENOVAÇÃO NO DCE

O Rio Grande do Sul acompanhou, através dos meios de comunicação, o resultado final da eleição recente do DCE da UFRGS, que resultou na vitória de uma chapa “não esquerdista” como muitos ressaltaram. O próprio Prefeito da cidade de Porto Alegre declarou que a vitória foi uma façanha semelhante à eleição dele quando derrotou o PT na eleição Municipal, ao passo que, o novo jovem presidente do DCE, respondeu que “não é pra tanto”.

Tal fato traz à tona alguns posicionamentos que remetem ao constrangimento da adesão juvenil de tempos nem tão distantes, em ser “de direita ou de centro direita no meio acadêmico”. Como jovem, e ex-aluno universitário, penso que não é a circunstância de ser “de direita ou esquerda” o motivo fundamental que elege um novo presidente de Diretório Acadêmico. O estudante, como toda a sociedade de forma geral, prega por mudanças, quando detecta que algo não vai bem, e a alternância de poder é um dos pilares mais sólidos da democracia.

Portanto, o processo de renovação política sempre é bem-vindo, e não seria diferente dentro de uma instituição tão respeitada quanto a UFRGS, universidade esta que se orgulha da formação de dois presidentes da República: Getúlio Vargas e João Goulart. Mais: Foi lá que o Governador Leonel Brizola consolidou sua formação acadêmica.
Todos estes homens públicos são referências que fundamentam a essência do verdadeiro trabalhismo brasileiro, banido do cenário político durante os anos de chumbo.

Ocorre que, ao associar tendenciosamente tal eleição estudantil como “queda do muro de Berlim da UFRGS”, e não mencionar, por exemplo, a queda do muro imaginário de Nova Iorque ocorrida neste último ano, simbolizado pela crise econômica gerada pelo Neoliberalismo, formaliza-se um julgamento político temeroso e de nenhuma contribuição democrática. Política estudantil não pode ser construída com ressentimentos advindos do passado.

Se assim fosse, poderíamos lembrar então que uma das primeiras contribuições democráticas da “revolução de 1964”, como muitos saudosistas da velha ARENA gostam de rotular, foi justamente incendiar o prédio da UNE no Rio de Janeiro. Lembraríamos do assassinato do Estudante Edson Luis, ou talvez da prisão dos estudantes no Congresso de Ubiúna em 1968. Então, melhor olharmos para o futuro, e não apenas para o passado.

A “onda da galera”, como rotulou um cidadão, em artigo publicado nas páginas de um jornal de grande circulação no Estado do RS, eram convicções de valorosos jovens, que clamavam por reformas estruturais e institucionais em nosso país, já na década de 60. Eram jovens que lutavam contra a ditadura militar, com o objetivo de reconquistar liberdades constitucionais, banidas pela força das armas; jovens que sofreram na pele a força da arbitrariedade de outros tempos.
Mas hoje, com a democracia consolidada, os jovens devem sim ter conhecimento de fatos históricos, mas jamais se deixar contaminar com velhos conceitos viciados. Então, melhor ficarmos com a interpretação do jovem presidente eleito sobre este debate ideológico: “Não é pra tanto!”.

Christopher Goulart
Advogado
Presidente da Associação Memorial João Goulart

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