terça-feira, 30 de março de 2010

João Goulart Especial 1° de abril. Golpe Militar


Confira aqui os artigos elaborados por João Vicente e Christopher Goulart, filho e neto do presidente especialmente para a redação “Página 64”.

1964, 1º de Abril a verdadeira data do golpe. Artigo João Vicente Goulart.

Por João Vicente Goulart

Há 46 anos derrubavam as forças armadas, títeres do estado americano intervencionista, o governo popular, democrático e, essencialmente constitucional do Brasil, pois seu presidente tinha sido eleito duas vezes pelo voto direto; como vice Jango derrotou o vice de Janio, Milton Campos e posteriormente confirmado o seu mandato por um plebiscito nacional que lhe devolveu através do voto, mais de 80% dos eleitores, os poderes constitucionais presidencialistas usurpados pela anterior tentativa de golpe, em 1961 na renúncia de Janio, dos golpistas Odílio Denny, Silvio Heck, e Grun Moss.
Os argumentos hoje, passados tantos anos da ditadura cruel que implantaram a força de baionetas e tanques, sufocando a liberdade de ir, de vir, de pensar, de votar, de opinar, de criar os nossos filhos dentro de uma pátria livre e soberana, são de que foi a população que pediu aos militares a intervenção para deter o comunismo. Ora, mera balela que só serve de argumento para os desinformados. Onde está o comunismo nos dias atuais?
Este povo que hoje os militares e setores das elites ainda inconformadas com o novo rumo social do planeta, que não mais admite privilégios que os militares consentiram as empresas multinacionais entregando o subsolo nacional, as reservas minerais, a Amazônia, o controle aéreo da nação, os transportes, as comunicações;
era o Padre Payton conhecido clérigo a serviço da C.I.A. que organizou as marchas da família pela pátria e pela liberdade. Organizada pelos IPES e IBADES que sorrateiramente presidido pela mentalidade parda do Golbery, financiou campanhas de parlamentares brasileiros em 1962, com dinheiro da C.I.A., já devidamente confirmado pelo réu confesso, embaixador Lincoln Gordon em seu livro lançado no Brasil em 2002 sob o título “A segunda chance do Brasil”.



Estes argumentos que hoje tentam distorcer as verdadeiras razões do “GOLPE” deverão com o tempo reconduzir a verdade histórica, e retomar o caminho das reformas que até hoje são necessárias ao país, pois, sem elas a marginalização da distribuição de um país tão rico como o nosso, permanecerá ainda nas mãos de alguns poucos banqueiros e privilegiados.
Existem ainda coisas obscuras neste levantamento da história nacional. Em 1963, se instalou uma comissão parlamentar de inquérito sobre os IBADEs e IPÊS, que identificava os parlamentares financiados pelo dinheiro clandestino da CIA, presidida pelo então deputado Ulisses Guimarães e relatada pelo deputado Pedro Aleixo que literalmente sumiu dos anais do glorioso Congresso Nacional.
Este é um importante documento histórico que confirmaria o conluio político-militar que justificaria a atitude do Sen. Áureo de Moura Andrade declarando vaga a presidência da Nação com o presidente João Goulart dentro do território nacional. Jango esperou, em sua fazenda de São Borja o empossa mento de Ranieri Mazzilli para configurar o golpe de Estado, partindo para o derradeiro exílio, onde foi morto, apenas no dia 4 de Abril.

Esta declaração do Sen. Áureo se dá no dia primeiro de abril. È claro que que é uma data que não interessa aos militares haver rasgado a constituição nacional. È o dia da mentira. Mentira esta que querem perpetuar como “revolução”.
O golpe contra Jango foi dado pelos acertos de seu governo. Governo este, aliás, til dado como incapaz por aqueles que usurparam do povo brasileiro o direito da liberdade e da democracia. Os incapazes de Jango que queriam um Brasil mais justo eram; Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Evandro Lins e Silva, Hermes Lima, Luis Salmeron, Josué de Castro, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Waldir Pires, Santiago Dantas, Raúl Riff, Armando Monteiro e tantos outros.
A verdadeira motivação do golpe era impedir as reformas de base que conduziriam o Brasil a um processo de desenvolvimento econômico de mercado interno sem depender do mercado internacional até hoje manipulado pelos grandes trustes internacionais. O capital sem fronteiras, sem nome e sem destino que subverte a dignidade humana e que aleija um bilhão de seres humanos através da fome.

A verdade é que derrubaram um projeto de reformas essenciais. Jango tinha mobilizado os sindicatos, os camponeses, os estudantes, as entidades de classe, os operários, pois as elites estavam organizadas através da grande imprensa em uma campanha feroz de desestabilização constitucional contra as reformas.
Jango propôs no comício do dia 13 enviando ao Congresso Nacional a mensagem de 1964, com as reformas; agrária, urbana, política, educacional, tributaria, bancaria, de remessa de lucros, que dariam a soberania necessária ao povo brasileiro a caminho de sua emancipação.
O que o golpe impediu é que no Brasil de hoje oito milhões de irmãos brasileiros sem teto já estariam morando dignamente em sua propia casa caso tivesse sido implantada a reforma urbana.
A reforma bancaria teria através da justa distribuição do crédito controlado a escandalosa concentração de renda que hoje no Brasil nos aponta 10% da população detém 90% da renda nacional, traduzindo um país de contrastes. Temos uma Suécia pequena dentro de nosso território e uma imensa Serra Leoa.

A reforma tributaria não teria deixado chegar a este imenso mar de tributos e impostos, alredor de 38%, sem nenhum ou quase nenhum retorno em saúde pública, educação, saneamento, segurança alimentar, etc.

A reforma política tão necessária que até hoje é comandada por interesses variados que compõem o nosso Congresso. Nas eleições só são empossados aqueles que pertencem a grupos ou possuem milhões de dólares para serem eleitos. Urge esta reforma.
Não temos mais cientistas discutindo tecnologia no Congresso, só deputados legislando a favor desta ou daquela tecnologia a ser comprada pela Nação. Só temos parlamentares que subservem este ou aquela corporação econômica.

A falta de uma reforma administrativa seria, continua a nos brindar com a orgia do dinheiro público, favorecendo a corrupção através de um judiciário que faz diferença entre direito e justiça.
A remessa de lucros das empresas multinacionais, que as elites privilegiadas internacionais têm pânico, pois estes oligopólios não respeitam soberania de nossos países e continuam a falar em livre mercado, globalização etc., que foi assinada por Jango, é o grande calcanhar de Aquiles que o Império teme e ainda submete nosso destino. A falta de regulamentação desta sangria, que é a remessa sem controle de nossas divisas é o nosso empobrecimento constante que Jango queria reverter. Somente nos últimos dez anos foram remetidos ao exterior, para suas matrizes mais de U$ 100 bilhões de dólares de nosso país. Somente no ultimo trimestre, segundo dados do Banco Central foram transferidos mais de U$ 5 bilhões de dólares.



E a reforma agrária, esta sim uma incontrolável peça de debates antagônicos e de disputas ideológicas que não fazem sentido em um país continental como o nosso Brasil. Jango decretou que fosse feita nas estradas, ferrovias e açudes federais, para um melhor escoamento da produção agrícola ali desenvolvida. Entendia que não era justa a valorização exacerbada com dinheiro público quando em uma propiedade de porte de latifúndio, era valorizada com a passagem de asfalto ou melhoramento público que através de obras, esta propiedade adquiria um valor intrínseco dez vezes mais que a original. Era ali que tinha que ser feita a reforma agrária. Com escoamento, assistência técnica, desenvolvimento de pesquisa agrária e tecnológica e não como hoje, colocando contingentes humanos enormes dentro da selva amazônica ou em terras remotas e distantes dos centros de consumo.
Em fim, derrubaram Jango não para deter o comunismo com o Padre Payton da CIA comandando comadres pela Av. Paulista.
Derrubaram Jango para deter o avanço social através das reformas de base em forma democrática. Precisavam dos fuzis sem voto para calar a esperança de um povo. Precisavam dos canhões para sufocar a liberdade. Precisavam da conspiração para rasgar a constituição. E agora no dia 1° de abril, o dia da mentira precisa continuar a dizer que não mataram que não torturaram que não seqüestraram que não fecharam o congresso nacional, que não cassaram e que não ficaram no poder durante vinte e um anos governando sem sequer um voto dos brasileiros.



A historia demora, mas aparece reescrita, ela é escrita pelos fatos, não pelos que primeiramente achavam que haviam vencido, ela se impõem através da justiça e não morre com os covardes.

Ao terminar preferimos deixar uma frase de Darcy Ribeiro para a reflexão;
“...Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado pelas causas que comovem. Elas são muitas, demais:a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade , somei mais fracassos que vitorias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas.”



46 anos de um golpe contra o povo brasileiro. Cristopher Goulart.

“Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República”!

Foi o que se ouviu na sessão do Congresso, presidida pelo Senador Auro de Moura Andrade no dia 1ª de abril de 1964. Sob a mesa do Presidente golpista, estava uma carta assinada pelo chefe da Casa Civil Darcy Ribeiro, informando que o Presidente da República, Sr. João Goulart, encontrava-se em território nacional, no Rio Grande do Sul, em pleno exercício de seus poderes constitucionais. Dessa forma, foi rasgada a Constituição Federal de 1946, pois a decretação da vacância somente poderia ocorrer em caso de o Presidente se ausentar do país sem permissão do Congresso.



Era necessário a todo custo configurar legalidade a um golpe militar, transformando-o num golpe constitucional. Era necessário obter o reconhecimento internacional do novo governo arbitrário, para adquirir aptidão de manter relações com os demais componentes da sociedade internacional. Ao assumir a Presidência o primeiro ditador de plantão, General Castelo Branco, pronunciou em seu discurso: “Meu procedimento será o de um chefe de Estado sem tergiversações no processo para a eleição do brasileiro a quem entregarei o cargo a 31 de janeiro de 1966” E assim a população brasileira foi submetida a uma mentira que perdurou 21 anos.
Analisar o golpe de civil-militar de 1° abril de 1964 implica em conhecer o contexto geopolítico do mundo na década de 60. Os Estados Unidos, preocupados com a expansão do comunismo, principalmente depois da revolução Cubana de 1959, dedicavam atenção especial ao Brasil, que tinha na Presidência da República um gaúcho adepto ao princípio da autodeterminação dos povos, e do não alinhamento econômico exclusivo com o Ocidente. Por isso, de acordo à declaração pública do ex-embaixador dos Estados Unidos Lincoln Gordon, falecido recentemente, foi na reunião na casa branca de 30 de julho de 1962 que foi mencionado pela primeira vez a possibilidade de um golpe contra João Goulart diante do Presidente Kennedy.

A CIA patrocinou a campanha de deputados e senadores que fizeram e/ou permitiram a fraude da declaração de vacância da presidência. A CIA também patrocinou passeatas e usou o manto sagrado de Deus e da Família para recrutar colaboradores em todas as camadas de nossa sociedade. Hoje, estas pessoas, autoridades, senadores, deputados, generais, empresários, funcionários públicos e muitos outros só podem ser considerados inocentes úteis ou traidores na História do Brasil.
Nosso país precisa conhecer o valor do Estadista que preservou a unidade nacional, ao evitar uma guerra civil, quando a tirania movida por interesses estrangeiros tomou conta do Brasil. Nosso país precisa urgentemente entender o projeto de Nação derrocado pela quartelada de 1964, para assimilar o prejuízo sofrido com a ditadura militar e retomar o verdadeiro caminho da justiça social.

Christopher Goulart
Presidente da Associação Memorial João Goulart

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